Mudanças na musicalidade

 Para este espetáculo, passei a usar essa semana, nos ensaios dos dias 3 e 5, recursos de looping.  Em termos práticos, eu gravo um trecho sonoro que fica repetindo indefinidamente. Sobre essa camada recursiva, esse trecho em repetição, eu insiro outro trecho, outra "camada". Essa camada tocada ao vivo pode ser gravada e se transformar em outro loop. 

Com isso, há a possibilidade de se construir in loco texturas, densidades compostas por pedaços de sons que misturam sons gravados e sons tocados ao vivo. 

Esse construção por camadas traz para a cena outras técnicas de composição que aquelas associadas as relações entre teatro e música por meio da canção, por meio de como a canção normalmente é proposta.

Na canção, frequentemente temos uma textura homofônica - uma voz, a melodia, é o centro de orientação, e o acompanhamento dessa melodia fica em segundo plano. Forma-se pois uma hierarquia. Como há um destaque para melodia e a melodia é associada à voz, no teatro usa-se muito a associação entre linha melódica e movimento. 

Na construção por camadas, pode-se romper com esse espaço sonoro hierarquizado, com essa ilusão do protagonismo da linha melódica como suporte ao movimento. De fato, a linha melódica tende a privelegiar o indivíduo, enquanto que um espaço heterofônico, com diversas camadas tende a enfatizar grupos. 

Assim, mais que fazer coincidir a melodia em primeiro plano que eu escuto com o movimento que eu faço, a ideia é agrupar, formar blocos, juntar, reunir, trabalhar com fisicidades, com massas, com forças. 

Desse modo, a composição por camadas sonoras pode se aproximar da prática de coralidades. É o que estamos tentando fazer esse semestre.



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