Dois últimos ensaios dias 5/12 / 30/11.
Com a perspectiva da apresentação no Cometa cenas, começamos a fechar a sucessão das cenas.
Nos dois últimos encontros tentamos fazer duas coisas: passar a ordem das cenas e ao mesmo tempo desenvolver cada cena.
O momento inicial foi proposto como um jogo corifeu/coro, no qual os intépretes em deslocamento vão alternando o foco (corifeu) em falas sobre experiências no DF.
Um problema dessa cena foi o apontado por Flávio Café: contraste. Como a cada momento há um foco diferente, é preciso um maior volume vocal quando o intérprete for apresentar sua fala. Essa questão vem dos exercícios anteriores, nos quais seja em grupos, seja coletivamente, houve mais ênfase na energia da cena que na distinção de focos individuais de interesse. O que importa agora é essa mudança não marcada, mas perceptível em que há um revesamente entre blocos de falas, cada bloco se destacando em volume.
A questão do volume vocal vai ser importantíssima na apresentação. Pois estamos ensaiando em uma sala pequena e vamos nos acostumando ao tipo de som produzido ali, que muitas vezes não é realizado com muito esforço. Ao sair da sala A do núcleo da dança para alguma Bss do Departamento de Artes cênicas mudam as condições espaciais e acústicas. Com isso, a percepção de distância entre as pessoas se altera.
Num espaço pequeno, mais íntimo, há a tendência de diminui o volume da emissão vocal pois estamos próximos e sons mais intensos ferem, agridem, machucam, pois são ondas físicas. O espectro de intensidade é manipulado para frequências menos agressivas.
Saindo dessa sala, vamos ter de ampliar este espectro. Aquilo que antes era forte terá de ser mais forte. E teremos de ser mais intensos em momentos climáticos.
Então a produção de contraste de intensidade na sala do núcleo de dança será diferente da produção de contraste na sala BSS. Para que haja o contraste, quem fala precisa usar mais energia. E uma coisa é ter mais volume em uma sala menor que em uma sala maior.
Nisso, vemos como é importante o espaço, a sala. O lugar onde a gente performa é um componente da dramaturgia audiviosual. A sala é um fator de timbragem, de mixagem dos sons e das ações.
Sobre a música. No primeiro ensaio, dia 30/11, eu fiz algo bem interessante. Para dar um clima maquinal à cidade, suas rotinas desumanizantes, eu usei mais o looping, criando camadas de sons repetidos. Tentei várias coisas, como os intérpretes estão também criando seu jogo de coro/corifeu. Já há presets na pedaleira com delay, que já se valem da repetição e atraso do som. Depois, troquei para algo menos máquina, menos reconhecível como efeito: um movimento pendular em base harmónico ( D5/ D6), e sobre essa base fui acrescentando outros blocos harmônicos ou melódicos.
O que ainda está acontecendo aqui é a falta de um tempo desse momento inicial.
Na indicação do primeiro ensaio, depois que as falas são apresentadas, o intérpretes se dirigem para o fundo, para se reunirem como grupo.
Uma questão aqui é o da transição para a cena seguinte.
Aliás, a questão da transição é um problema da dramaturgia do espetáculo: como conectar as cenas que são ensaiadas isoladamente.
No ensaio do dia 30/11, o coro passou a cantar a partir da melodia gerada no movimento pendular harmônico da guitarra. Quando o coro assume essa melodia pendular, a guitarra passa a ficar mais livre.
A transição é necessária para que haja a primeira cena, que é o dos decretos sobre a origem do DF.
No dia 05/12, o ritual de entrada com as pessoas espalhadas pelo espaço foi bem diferente. Usei outra música. Novamente as falas estavam misturadas, sem distinção de intensidade. O coro, segundo Flávio, é quase sussurrando. E as entradas, a sucessão das fala tem de ser sentida. É um movimento de ondas. Flávio ficou dizendo: "Não ouço o corifeu". a cena teve de ser interrompida. Flávio solicita que a voz seja projetada.
O problema aqui é duplo: primeiro, não há uma definição sonora. Estamos ainda nos improvisos de aquecimento. De minha parte, depois de ouvir e ver os dois ensaios, entendi que as soluções do ensaio do dia 30/11 ficaram melhor. Pois o material depois vai ser incorporado pelo coro.
O segundo é o dos intérpretes se ouvirem e daí ajustarem suas ações. Pensaram musicalmente a cena. Estão fazendo uma música, com solistas se revezando nessa sessão. Por isso tem de entender como ir para primeiro plano e o tamanho de suas falas. Imaginem uma sessão de improvisação de jazz ou de chorinho. Há um grupo de instrumentistas. Um instrumento vai para primeiro plano. Esse instrumento toca por um dado período. Ele produz algo interessante. E depois outro toma seu lugar. E assim por diante. Uma das coisas que estamos fazendo desde a retomada da Huguianas é pensar em tudo como um coro, como um grupo multissensorial. Esse fluxo de ações entre corifeu e coro passa por sentir essa sucessão de planos de intensidade, de revesamento de quem produz ação vocal com mais volume.
No segundo ensaio, a indicação para a passagem do jogo coro/corifeu para os vocalises no aglomeramento é a orientação de Flávio "quando quiser, começa a tocar". Então, há o jogo inicial, depois o povo se aglomera e depois começa tocar e cantar.
Para tanto, como foi bem feito no primeiro ensaio, eu já teria de ter introduzido o movimento pendular. Esse movimento harmônico pendular vai para o looping. Eu administro o volume na caixa, para ele ficar mais atrás durante o jogo inicial.
Lembrar que é durante o jogo inicial que o público entra.
No ensaio de 30/11, quando a percussão começou a tocar eu já coloquei os acordes da primeira música, "A cidade". Tanto eu quanto os intérpretes não lembramos.
A percussão do ensaio de 5/12 ficou boa. É um crescente para se sair do individual para o coletivo. Na versão de agora usei acordes dissonante. Flávio construiu junto com o coro um crescente de pequenas falas-cantos. A percussão começa a tocar e o coro sai das falas para uma balbúrdia crescente. Daí começa o texto dos decretos.
Na cena dos decretos, o problema para mim aqui, com as muitas mudanças na construção da cena ainda em andamento, foi o de encaixar sons com a performance vocal do intérprete. Como não escolhi os timbres, tenho a pedaleira com diversos presets. E para as trocas de timbres, eu preciso de intervalos mínimos de tempo.
Desde o início, para a música A Cidade, eu adotei um timbre com pouca distorção. Creio que vou adicionar mais distorção na parte C da canção.
Então na cena dos decretos vou um usar um timbre para comentários lateriais. e esse timbre precisa ficar perto do timbre de A cidade.
Acaba a música começa o próxima canção. Eu preferi ficar no mesmo timbre da Música da cidade, mas tocando de outra forma. Marcando mais o ritmo nas notas mais graves. O tom das duas canções é o mesmo.
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